Achocolatado com o antologista Felipe Martins

     O antologista Felipe Martins é psicólogo e diretor da Cia dos Desajeitados e Trupe dos Bananas. Sua experiência na escrita inclui alguns trabalhos publicados pelo Coletivo Retrato Colorido, pela PerSe, pela Cartola Editora e pela Psiu Editora, onde atua como assistente editorial. Sobre seu envolvimento com a produção literária, Felipe diz sobre uma relação constante e duradoura: "Sempre escrevi e isso se tornou uma grande ferramenta de enfrentamento nos dias de hoje. [...] Eles falam que a caneta é mais poderosa que a espada, mas penso que além disso a escrita é uma porta, uma passagem que me leva para dentro e me mostra o melhor de mim." Como escritor e antologista jovem, negro e gay, seus primeiros trabalhos na literatura carregam muito de suas vivências e inquietações sobre o mundo.

  
 Suas primeiras publicações no mercado literário foram através da coletânea Nossas Cores: (RE)Configurando afetos e existências com os textos Beijo Morto e Um Casal Não Tradicional. Este trabalho foi organizado pelo Coletivo Retrato Colorido. Felipe Martins destacou a sensação logo após a experiência: "Até então nunca havia publicado nada. Foi um choque ter sido selecionado. Faltava confiança no meu trabalho, mas depois disso passei a acreditar mais em mim e comecei a participar de outros concursos literários." Desde a primeiras publicações, Felipe Martins vem compartilhando textos em antologias, em plataformas de publicação independente e em e-books no Amazon.

   Para o antologista, a sensação de segurar o livro com os seus primeiros textos foi única e marcante: "[...] Me deu vontade de ter essa sensação para sempre. Procurei alguns sites onde eles dispunham de vários concursos abertos no Brasil e no mundo." Felipe Martins continuou sua caçada por antologias e coletâneas para publicar. Começar a se inscrever nos concursos sem medo da rejeição foi o primeiro passo na caminhada até chegar ao cargo de assistente editorial da Psiu Editora. Ele descreve a influência da escrita na sua vida profissional com muita confiança e determinação: "Nunca imaginei isso, mas se tornou real antes mesmo de ser um sonho. Então, sim. Influenciou muito profissionalmente." Foi através da Psiu Editora que Felipe Martins teve sua primeira experiência como organizador de uma antologia literária.

   Após publicar dezenas de textos literários em antologias de várias editoras e em periódicos independentes, seu primeiro trabalho como organizador se chama Não Pararemos de Lutar, uma antologia de contos antirracistas escritos por autores pretos de todos os cantos do país. Este foi um dos trabalhos de maior sucesso em financiamento coletivo e em divulgação da Psiu Editora. Sobre a obra que ainda está em processo de edição, Felipe Martins fala do emoção dos textos: "Tive a oportunidade de ler textos emocionantes, todos em primeira mão, organizar lives com alguns autores. Tem sido uma riqueza. Cada vez mais apaixonado por esse ofício." As lives aconteceram na página da editora no Facebook e foram acompanhadas de escritores da casa e de vários leitores. As gravações continuam disponíveis na página.

    Em relação ao contato com outros autores, Felipe Martins fala sobre todo seu trajeto de publicações: "Eu tenho contato com dezenas de autores devido à minha passagem por todas essas editoras. Porém, eu conheço alguns autores na vida pessoal, inclusive alguns que têm a mesma insegurança em participar de concursos." Ele relata os pontos em comuns e outros detalhes que os aproximam em diversos aspectos, não só da produção literária como dos laços de amizade. Seu maior conselho é para que os autores tirem seus textos da gaveta: "Sinto como se fosse um dever meu apoiar, indicar concursos, falar sobre a maravilhosa experiência que é participar das antologias e ter seus trabalhos publicados." São vários contatos que permitem uma grande troca de conhecimentos e experiências. É tudo muito gratificante, segundo o antologista.

   Fazendo um breve resumo sobre o uso de plataformas para publicação, Felipe Martins menciona O Sopro da Morte, um blog de sua autoria que funciona há um bom tempo, mas que está saindo do ar, pois os textos integrarão seu mais novo livro O Último Dia Ainda Não Acabou. Em breve ele será publicado no Amazon, onde estão seus outros dois livros em forma de e-book: O Filho da Morte e Ele Não Usa Salto Alto

   Entrando no mundo da leitura e do acesso às publicações, Felipe Martins primeiro destaca o incentivo à leitura: "Nosso país é extremamente carente disso. Quando falamos de incentivo não é somente dos grandes clássicos, mas de qualquer leitura expressiva. Falta incentivo à leitura e à escrita, inclusive nos ambientes escolares onde não se entende que o incentivo precisa ser algo que comunica com cada aluno de forma individual e não com todos de maneira genérica. Nem tudo se aplica a todos." Em seguida, ele fala sobre o acesso à leitura e aos textos literários: "As bibliotecas escolares não possuem uma variedade de livros que atendam a variedade de leitores. Até as bibliotecas públicas municipais são conhecidas por poucos. O que facilita é a leitura digital, mas novamente, nem todos têm acesso às plataformas." O antologista conclui sua fala com a importância das antologias para essas questões: "Eu acho que as antologias contribuem, parafraseando a autora Michele Kataoka, para a 'democratização da literatura'. Elas abrem portas para novos autores. Cada autor fala da sua publicação para seu círculo de pessoas. Estas pessoas se interessam e por aí vai. Forma-se uma corrente literária. Através das antologias temos acesso a vários autores, várias estórias e histórias, de uma forma mais acessível financeiramente."
 
   Quanto ao seu estilo ou gênero favorito, Felipe Martins cita os contos, mas também escreve e publica poemas e dramaturgias. Ele fala sobre os 'textos viscerais', o gênero mais marcante em suas publicações. No entanto, ele afirma não possui um gênero preferido, mas sim um tema: "Adoro escrever sobre relacionamentos, sobretudo nosso relacionamento conosco." Segundo o antologista, ele aborda tal tema em vários gêneros. Aliás, a recepção de seus textos diz muito sobre como os leitores enxergam a sua escrita: "Eu sempre tive reclamações dos meus textos viscerais. As pessoas sempre descrevem como um soco no estômago. Apesar da boa receptividade, eles causam esse desconforto enorme porque trazem algumas verdades doloridas." No entanto, seus contos e poemas são mais leves. Ele ressaltou o hábito de enviar seus textos para algumas pessoas aleatórias antes de submeter a algum edital de concurso literário: "A devolutiva é sempre positiva, mas é claro, nem sempre os textos são aprovados. Tudo bem."

   O conselho que o antologista Felipe Martins dá aos autores interessados em organizar uma antologia fala sobre o processo e o grande valor que cada etapa possui: "Organizar uma antologia é muito mais do que ler e aprovar textos, é construir uma obra, é fazer entretenimento, é contar uma grande história com outras pequenas histórias. Então, pesquise bastante sobre o tema que está se propondo a organizar. Escolha sabiamente e com o coração para fazer da antologia algo especial, mas use o cérebro para fazer algo coerente e único. Toda e qualquer antologia é uma colcha de retalhos e o organizador é o costureiro. Cabe a ele fazer desse trabalho algo lindo. Mantenha isso como norte e não tem como não ser um lindo trabalho."

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