Por que "Achocolatado Literário"?

      

      O nome "Achocolatado Literário" não é muito comum de ser lido nas páginas da internet e muito menos em eventos das comunidades acadêmicas ou das sociedades literárias. Muito se fala em "Café Literário", "Café Filosófico" , "Café Sociológico" etc., alguns até com personalidades notórias e de prestígio nas diversas áreas de conhecimento, como por exemplo: "Café com o escritor X", "Café com o sociólogo Y". São eventos de grande importância para discentes, docentes e a comunidade em geral, onde ocorrem trocas de conhecimentos, informações novas e produções literárias e científicas, com rodas de conversas, leituras, debates e espaços para perguntas e respostas. A intelectualidade é desfrutada junto com as comidas e as bebidas servidas aos presentes (nem sempre tem o café, embora seja tradicional). A questão é: embora a relevância e os incontáveis acréscimos que tais eventos proporcionam aos participantes, a maioria das vezes se tratam de espaços inacessíveis a diversos setores da sociedade. Eu me refiro aos não membros das comunidades acadêmicas, em especial, às pessoas que não possuem (mais) vínculos com nenhuma instituição de ensino, aos adolescentes que ainda não chegaram nas universidades (e que não possuem qualquer familiaridade com o discurso acadêmico restrito) e aos grupos e coletivos dos movimentos sociais de fora das universidades (muitas vezes, ausentes nesses eventos, apesar de terem servido como objeto de estudo). Por isso, o nome precisava se afastar dos conceitos estereotipados de um espaço aberto para leituras e discussões.

      Mas o que o "achocolatado" tem a ver com isso? Eu posso perguntar a uma criança que já experimentou um ou dois tipos de achocolatado e não quis mais beber café. O achocolatado tem sido servido em muitas escolas, muitas creches, muitos passeios e em muitas casas. É uma bebida doce, saborosa e marcante na vida de muitas pessoas, que carrega momentos simples e únicos de compartilhamento e conversa, seja na hora do lanchinho, na hora do recreio ou na hora de dormir. Quem gosta de achocolatado não precisa vestir a máscara da maturidade e esconder essa paixão no sigilo de casa. Muitos adultos admitem o consumo e a preferência por isso ao invés do café. Eu mesmo não vivo sem meu achocolatado diário (sem contar que eu sou alérgico a café). Porém, apesar do "orgulho" de beber, não dá para omitir as piadas. É muito comum ouvir coisas como: "Desse tamanho e ainda bebe achocolatado?", "Você não teve infância não?", "Quando você vai crescer e parar de beber isso?". Não que isso tenha me desmotivado a continuar sendo #achocolatado. É que esses comentários me fazem refletir sobre muitas outras críticas em relação a mim, aos meus gostos e às minhas ideias. Isso acontece principalmente nas universidades e nos espaços de discussão acadêmica. Me lembro de ter feito uma sequência de palavras-chave sobre o que me dizem: amadurecimento - crescimento - padrão - ABNT - mudança. Engraçado? Muito. Eu ouço até de quem sente as mesmas dificuldades que eu tenho. Parece que os espaços acadêmicos querem obrigar todo mundo a adquirir uma linguagem única, apesar de que muitos (na maior cara de pau) só fingem entendê-la e reproduzi-la. Até papagaio pode repetir a fala de alguém.

      Por isso, eu optei por me dedicar aos espaços onde as produções não precisam ser "profissionais" ou "dentro dos padrões científicos". Eu falo de uma liberdade que dispensa as normas da ABNT (mesmo que parcialmente) e dos temas específicos de um evento, dossiê, periódico ou atividade avaliativa, de uma página voltada às produções independentes, onde os escritores, os artistas e suas obras sejam figuras autônomas e desconhecidas dos grandes meios de divulgação e prestígio, mas especiais, persistentes e empenhadas em continuar produzindo e compartilhando seus trabalhos com todo mundo. O Achocolatado Literário foi criado com o intuito de dar voz a essas estrelas da escrita literária que não são apadrinhadas por grandes editoras e nem por jornais de alcance nacional ou internacional. Essa voz visa potencializar outras que buscam incentivo e que precisam de um empurrãozinho para criar coragem de escrever, publicar e compartilhar seus textos, enfrentando o desprezo das ditas "elites intelectuais" e dos "pseudocríticos de produção artística, cultural e literária". Você pode ser poeta, contista, cronista, colunista, dramaturgo, blogueiro, roteirista, criador de conteúdo e muito mais. (Reforçando que não há necessidade de ocupar um espaço acadêmico para se tornar um desses). E por incrível que pareça, nós (que produzimos) é que cuidamos de todo o resto também.

      - Como não temos apoio e patrocínio de nenhum desses setores, nós construímos o nosso espaço. Nós somos nosso próprio palco.

Comentários

  1. Bravo, Jojo! Nós somos o nosso próprio palco e somos nós também os responsáveis por nos construirmos e reconstruirmos. Eventualmente, haverá julgamentos externos; entretanto, nós escolhemos aceitá-los e nós decidimos se nos moldamos ou não frente a eles. Em outras palavras: se você toma achocolatado ou café, cabe a você ir em frente ou não com esse tão prazeroso hábito -- que, diga-se de passagem, gerou esse blog tão importante.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, querido Guilherme. Muito obrigado pela sua leitura. <3
      Nossas decisões dizem muito sobre quem nós somos e como lidamos com tudo isso. Nós resistimos aos julgamentos e somos bem insistentes com o que gostamos e queremos. Por que abandonar tantos prazeres? Ninguém sai ganhando com isso, a não ser quem se contenta com a desmotivação alheia. O melhor é pegar o achocolatado, sentar e continuar escrevendo, mesmo que seja para si ou para pouquíssimos.
      Muito obrigado também por acompanhar o blog.

      Com amor,
      Jojo Campos

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas