Achocolatado com a antologista Isadora L. Hermann

      Isadora Lomeu Nunes Hermann Garcia, mais conhecida como Isadora L. Hermann, é uma geógrafa, professora, educadora, fotógrafa, escritora, contista, cronista, poetisa e antologista volta-redondense. Tem 25 anos e mora no município de Cataguases (MG). Entre 2010 e 2013, cursou o ensino médio no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), onde se formou como técnica em meio ambiente. Em 2019, foi aprovada em primeiro lugar para o seletivo do Programa de Pós-graduação em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente, é discente do mestrado profissional e professora do ensino fundamental II da Prefeitura Municipal de Santana de Cataguases (MG). Seus principais trabalhos literários são a participação em antologias de contos, crônicas e poesias, como Epifanias em Palavras (E&P) e Mulheres das Letras (Litere-se), a organização da antologia Língua Animal (Ao Vento Editorial), a idealização do projeto Mala de Bordo (Ao Vento Editorial) e o agraciamento com o Prêmio Internacional Mulheres das Letras 2020 (Litere-se).

      O início da sua caminhada no mundo da literatura foi bem cedo, desde pequena, quando foi alfabetizada e mergulhou de cabeça nas palavras, as quais afirma sentir uma profunda admiração. "[...] Considero como minha primeira publicação o conto O Espantalho, publicado em 2003 em minha escola (risos): Escola Municipal Amaral Peixoto. Me lembro como se fosse ontem... A professora havia solicitado uma redação e eu não sabia sobre o que falar!" A autora relembra as histórias que sua mãe contava sobre o passado e como isso ajudou na sua grande tarefa: "[...] Minha mãe - que ama histórias sobre os tempos passados - deslanchou a falar sobre acontecimentos da vida no campo, o trabalho exaustivo na roça e todas as suas aventuras de criança... Todos os 'causos' renderam boas páginas sobre o fictício espantalho que tudo observava." Ela destaca o grande sucesso que a sua lição de casa fez na escola: "No dia seguinte, entreguei a atividade e solicitaram que eu me dirigisse até a secretaria com meu caderno brochurinha. Naquele dia pediram que eu reescrevesse o conto na matriz e 'mimiografasse' para toda a escola... Acho que nunca me senti tão importante, respeitada e valorizada na VIDA, como naquele momento." A boa recepção do seu conto e o interesse da escola em destacá-lo para toda a comunidade escolar serviram de grandes incentivos para a sua vida de leitora e escritora.

      Ao longo de sua infância, adolescência e início da fase adulta, Isadora L. Hermann sempre manteve uma relação de proximidade e acolhimento com a escrita. "Sempre vi na escrita uma possibilidade de entender meus processos, minhas dores e angústias. Por toda a adolescência e parte da juventude, escrever teve um significado análogo à terapia para mim e, ainda nos dias atuais, há muito de mim em meus trabalhos: paixões, frustrações, militância..." Já no campo profissional, a escrita foi decisiva nas suas afinidades acadêmicas e exerce um grande papel de influência nos seus estudos e trabalhos atuais. "[...] Nas chamas ciências humanas, mais especificamente na geografia e história (sou mestranda em patrimônio cultural e pesquisadora em memória, poder e cidadania) a escrita é essencial, a análise de narrativas indispensável." É notável que o amor pela escrita mantém um diálogo, mesmo que indireto, em cada detalhe da sua trajetória pela universidade.

      Agora, entrando no universo da literatura, a antologista fala sobre sua primeira experiência como organizadora de uma antologia literária. "O primeiro projeto literário o qual tive o prazer e a honra de organizar foi a antologia Língua Animal, através da editora Ao Vento Editorial. Foi uma experiência incrível e bastante singular." Além do seu trabalho de organizadora, a coletânea contou com duas publicações de sua autoria: os poemas Guardião e Todos os gatos merecem poemas. Ela também descreve como o processo de construção da antologia a aproximou de vários autores independentes do país inteiro e como tudo isso é muito gratificante. "Lidamos com produções literárias intensas, muito pessoais e de uma beleza incomparável. Neste processo tento sempre me colocar no lugar do escritor que deposita sua confiança a um edital coletivo ou editora e, no final das contas, já estamos envolvidos, construímos laços e até marcamos uma visita e um cafézim (ou um achocolatado <3)." Como organizadora, esse contato com a diversidade de pessoas e de produções literárias tornou-se um grande prêmio de literatura. Essa proximidade é o que os autores (ainda mais os iniciantes) esperam nos projetos coletivos.

      Em relação à disponibilidade de suas produções literárias, Isadora L. Hermann possui textos em antologias publicadas em formado e-book no Amazon e em livro físico no portal de vendas da Ao Vento Editorial e da Litere-se. Porém, antes de começar a publicar em livros, a autora explorou as redes sociais para os seus trabalhos. "Grande parte dos meus trabalhos foram postados no Facebook por um bom tempo." Aliás, muitos autores começam (e continuam) publicando em redes sociais. O Facebook, o Instagram e o Twitter são grandes folhas em branco quase ilimitadas (exceto ao número de caracteres) para escrever sobre o que quiser.

      Sobre o acesso à leitura e às produções literárias, a antologista expõe o seu lado militante e reafirma sua preocupação com a temática: "Esta é uma ferida a qual precisamos tocar para pensarmos juntos nas possíveis soluções. É desafiador, mas extremamente necessário discutirmos e defendermos a democratização do acesso à cultura e leitura enquanto um direito de todos e exercício de cidadania. Os déficits de acesso e cultura da leitura no Brasil são um retrato fiel das desigualdades que, historicamente enfrentamos e infelizmente temos (re)produzido anos a fio." Além disso, ela comenta sobre o papel das antologias e como elas contribuem para essa questão. "[...] Mesmo com raízes tão profundas, acredito que 'ao seu modo e escala', as antologias podem contribuir positivamente pata tal causa. Quando não vistas como um modo de reprodução capitalista predatório (como os grupos editoriais que produzem livros sem um propósito que não seja o lucro e exploração dos autores cobrando valores absurdos), elas contribuem na divulgação e valorização da produção nacional, incentivando mais e mais pessoas a se aventurarem pelos caminhos da escrita, além de permitirem a entrada de talentos únicos no meio editorial a valores cabíveis e mais justos." Essa ênfase na questão das editoras também motiva a criação de muitos projetos de editoras pequenas e independentes (muitas com finalidade de autopublicação), nas quais a autora publicou seus mais recentes trabalhos.

      Quanto às suas preferências por gênero literário, Isadora L. Hermann compartilha o seu grande amor pelos poemas e pelas crônicas: "[...] São os gêneros que mais escrevo e com os quais me identifico." Porém, nem sempre ela compartilhou seus trabalhos com o público (em antologias). Para uma escritora os motivos podem estar dispersos ou enfileirados, mas muitas vezes o primeiro a ser mencionado é o 'sentir-se à vontade'. No entanto, em todas as oportunidades para publicação, a antologista foi muito bem recebida pelos leitores. Isso a incentiva a continuar os seus trabalhos literários.

      Como conselho a alguém que gostaria de se aventurar como organizador de uma antologia literária, Isadora L. Hermann diz: " 1 - Escolha uma editora que compartilhe dos seus ideais: organizando uma antologia, seu nome estará vinculado ao dela para sempre. É importante que exista uma parceria efetiva e confiança entre as duas partes; 2 - Planeje e visualize sua proposta com clareza: organize o livro tal como você gostaria de ler!; 3 - Envolva-se no processo: interaja com os autores, leia e sinta suas obras prezando sempre pelo respeito e a empatia... ao organizar antologias, lidamos com todo o tipo de pessoa e situação. Nunca sabemos o quão envolvido está o autor ou o quão 'pessoal', 'autobiográfica' é sua produção."

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