Quem são esses autores?

 

      Se, por acaso, em algum momento da sua vida virtual, um jovem leitor encontrou alguma FanFic gay meio clichê de Crepúsculo e ficou chocado com a morte da Bella e o casamento entre o Edward e o Jacob, ou descobriu um blog com postagens semanais de capítulos de uma trilogia sobre um reino de fadas chamado Nymphaea, ou uma propaganda gratuita de uma nova coletânea de poemas góticos no formato e-book, ou mesmo uma vaquinha virtual para arrecadar fundos para a publicação de uma antologia de contos de vários autores nacionais, isso significa que os algoritmos estão cumprindo o seu devido papel de aproximá-lo de seus possíveis futuros autores favoritos. Porém, fica uma pergunta no ar: quem são esses autores? Eles não estão nas editoras mais famosas do Brasil, pois não são gringos e nem personalidades midiáticas de grande influência. Também não estão dando entrevistas em programas televisionados com um alto número de telespectadores. No entanto, eles estão aqui, sendo entrevistados pelo blog Achocolatado Literário. Eles são autores livres, independentes e com algumas desvantagens (segundo as regras do mercado editorial). Alguns publicam contos, outros publicam contos e crônicas. Tem um que só escreve poemas e outros que escrevem tudo isso e muito mais. Cada um possui o seu valor, o seu jeito especial de encantar com as palavras e o seu público-alvo. Sendo assim, nada mais justo do que oferecer uma mão amiga para ajudá-los em suas jornadas no mundo da literatura.

      Como a jornada de um escritor é eterna, alguém tem que dar os passos durante o trajeto. Não é ele quem faz isso, tampouco o blogueiro ou o jornalista que o entrevistou. Quem faz isso é o leitor. Por isso que muitos choram de emoção quando descobrem algum leitor assíduo e fiel em algum canto do país. Às vezes, o autor mora em Porto Velho e o leitor em Porto Alegre. É meio difícil marcar um encontro em uma sorveteria ou mesmo autografar um exemplar pessoalmente. Esses autores também podem trabalhar o dia inteiro em um supermercado ou em uma farmácia, enquanto o leitor passa a madrugada inteira livre para vasculhar as suas obras pelo Wattpad. Alguns autores são vigilantes, vendedores, recepcionistas, operadores de caixa ou estão desempregados e sem nenhum auxílio para ajudar a custear as despesas em casa. O aluguel atrasa, a comida fica mais cara e o que resta é o pouco tempo livre na internet para escrever algumas de suas histórias fantásticas sobre um adolescente rico que acabou de descobrir os seus poderes de bruxo. O relacionamento acabou indo às ruínas por causa da pandemia, as brigas em casa parecem estourar os tímpanos e as aulas remotas não param de sufocá-lo, mas os seus poemas sobre amor, família feliz e tempo livre continuam ocupando as folhas do caderno. Outro dia, ele decidiu juntar tudo isso, colocou uma linda capa feita no Canva e publicou no Wattpad. Em seguida, pagou uma pequena taxa para deixá-lo um pouco mais "organizado" e publicá-lo como e-book no Amazon. O preço: R$ 9,99 (nove reais e noventa e nove centavos). Só ele para dizer se o valor é "justo" ou não.

      Tem um autor paulistano que trabalha em uma ONG internacional e acabou de passar em um doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Ele publica crônicas em uma coluna semanal e, de vez em quando, envia seus contos para alguns editais de antologias literárias. Tem também uma autora pernambucana que tem mestrado em produção vegetal, mas trabalha como designer e possui um portfólio gigantesco de artes de capa e logomarcas. Ela publica contos mensais de uma série em coautoria com o seu melhor amigo e administra o seu Instagram literário. Há alguns dias, foi publicada uma entrevista sobre um autor que é publicitário, escritor, poeta, contista, cronista, romancista, colunista, blogueiro, ator e cantor. Pouco tempo depois, foi a vez de um poeta que dizia não conseguir escrever outro gênero que não fosse o poema. Essas diferenças não classificam os autores em melhores ou piores, produtivos ou improdutivos. Na verdade, as diferenças fazem do mundo literário um lugar plural, diverso, acolhedor e gratificante, pois há espaço para todo mundo ler e escrever. Porém, é essencial deixar explícito que, apesar das diferenças, todos eles sentem o peso das injustiças do mercado editorial e dos grandes meios de comunicação. Embora uns tenham melhores condições financeiras do que outros e o tempo para escrever tenha suas variações, nenhum dos entrevistados preencheu o "perfil ideal" para ocupar espaço nas grandes editoras com suas redes de livrarias parceiras. É por isso que eles são convidados de honra nos achocolatados do blog. Quem já alcançou toda a notoriedade na mídia e no mercado não precisa estar aqui, ocupando o lugar de um autor que se vira para vender suas obras.

      Todos os autores livres, independentes, amadores, profissionais, com um acervo enorme de publicações ou que acabaram de publicar seus primeiros textos, contanto que não sejam estrelas dos holofotes do mercado editorial, são muito bem vindos para tomar um achocolatado no blog e participar de uma entrevista sobre sua biografia, sua história, seus primeiros passos na produção literária, sua participação em publicações coletivas, suas opiniões sobre o acesso à leitura, a disponibilidade de suas obras, a receptividade dos leitores, o contato com os demais autores e o grande conselho a todos aqueles que queiram começar a escrever ou publicar o que já está no ponto. Esses autores são a razão da existência deste blog e da continuidade dos trabalhos em prol de uma luta pela visibilidade no mundo da literatura. Por isso, quinzenalmente (ou como devia ser), o quadro de entrevistas apresenta um novo autor para todos os leitores do país (quem sabe, do mundo) inteiro. Os números de visualizações não são muito altos, mas é um esforço que vale a pena insistir. É necessário chutar a porta para que outros saibam que tem mais gente querendo entrar.